Ia até ao 8º piso, era daqueles elevadores antigos, de porta de grelha, (encolhia e esticava). Cuidado com os dedos! Advertiam-me!
Entrava-se e tinha um chão de soalho, imediatamente, veio-me à memória a Minnie, uma rapariga endiabrada que conhecia as manhas do elevador e que só arrancava, com «step by step», dum sapateado bem ritmado.
Infelizmente no dia em que eu entrei num outro elevador, não havia Minnie nem o Bruce Willis, do filme «O Assalto ao Arranha-Céus», ele saía numa das situações de maior perigo, saía pelo tecto do elevador, trepava pelo cabo e salvava assim a mocinha…
Mais tarde, no tempo em que vivia em Paris, conheci a Merícia de Lemos, uma mulher fantasista e que me convidou para jantar, em casa (supunha eu), subimos num elevador «prive», forrado de veludo «capitoneé», ao fim de um dry Martini, perguntou-me: tá pronta? Então passemos à sala de jantar, descemos, ela abriu a porta e para minha grande surpresa saímos pela «Avenue Montaigne» e entramos num restaurante e virando-se para mim diz: esta é a minha casa de jantar, gosta?
Comia-se maravilhosamente, por isso, via-se na mesa ao lado o Romain Polansky o Yves Saint Lourent, com a sua musa Loulou de la Falaise, Pierre Bergé, entre outros.
Em casa a sua cozinha tinha sido transformada em «closet» onde guardava maravilhas de alta-costura.
Uma vez no Recife, apaixonei-me pela visão de um elevador, transparente, (sempre gostei de elevadores transparentes!), tinha várias fiadas de luzes azuis nas verticais, fazia-me lembrar o filme «Blue Velvet».
Tanto me fascinou que acabei por ir lá parar!
Voltei lá várias vezes e a suite 710, estava sempre reservada para mim.
A suite era como um navio. Quase toda transparente e parecia que entrava pelo Oceano Atlântico, ouvia e sentia as ondas do mar a bater, ao som de Nino Rotta.
Ficou também a recordação de um moreno de olhar pesado, gingando no seu fato branco, tanto me olhou que me fulminou!
Quantas recordações no ELEVADOR!
Outra foi em Inglaterra, numa das viagens que fazia a Londres, encontrei na feira de «Portobello Road», um descendente da família de Eça de Queirós, fez-se passar por vendedor, para eu olhar para ele, assim foi! Perguntei-lhe em inglês o preço de uma peça que estava interessada e ele respondeu-me em português.
Ah! falas português e és vendedor aqui? Sorriu com olhar malandro e diz-me: «subornei o vendedor para olhares para mim!», rimo-nos imenso e decidiu mostrar-me os sítios da «sua» Londres, demos várias voltas, até irmos parar ao seu «flat». O pequeno elevador, encravou-se e tudo começou mesmo ali no chão do elevador… Um romance curto mas muito intenso!
Outra história, foi na longínqua Índia em 1976, fiquei num hotel de cinco estrelas que valia por dez! Isto passava-se em «Bombay». O hotel era de uma sumptuosidade e parecia uma pequena cidade, fervilhava de gente a sair e a entrar de diversas nacionalidades, tinha restaurantes dos quatro cantos do Mundo, «boutiques», massagens, na altura não havia «Spas»…«boites» de todo o estilo de musica, danças do ventre, etc., só que eu não encontrava a tal «boite» para jovens com música da época e dirigi-me à recepção, para perguntar, mas reparei num jovem muito bem educado que me pareceu de confiança e dirigi-me a ele, perguntando pela tal «boite», ao que me respondeu: «Há, há! Mas antes, tenho que encontrar-me com um amigo meu e depois levo-a à «boite», não se importa?» Como me pareceu inofensivo, lá fui, mal sabia o que me reservava!
Subimos no elevador até ao 17º piso. Eis que me apercebo que entramos logo para uma enorme suite (era todo o andar) e um odor que pairava no ar a jasmim. O amigo era nada mais nada menos que um Sheik da Arábia Saudita!
Ao que parece tinha negócios a tratar ou contactos, não sei bem, porque fiquei tão atordoada com o odor intenso a jasmim e as visões do «décor» que parecia um filme das mil e uma noites (até odaliscas se balouçavam em baloiços!). Quando conheci o Sheik, foi o «cou de foudre». Só saí de lá cinco dias depois!
Dado esta história ser tão mirabolante, assaltaram-me recordações de outras histórias de várias raparigas, jovens como eu, que, na altura, desapareciam misteriosamente. Assim, na quinta noite, esperei que os seguranças dormissem, e foi o ELEVADOR que me salvou de não ir parar a um harém!
Texto e pintura de
Gracinda Candeias Sobral de Monte Agraço, 26 de Agosto de 2008