sábado, 19 de julho de 2008

PRIMEIRO ANDAR: ANA PAULA


O ELEVADOR, I
Sem-nome caminhava distraída direita ao elevador. Era uma mulher tranquila e prática. Carregou no botão e aguardou pensando em nada. Talvez na cor das paredes à volta...
Entrou.
Ainda não tinha iluminado o botão do 4º andar quando o homem entrou também atrás dela. Não lhe apetecia falar. Mas a ele sim.

Boa tarde. Ela acenou vagamente com a cabeça. Também vou para o 4º. Ela esboçou um ligeiro sorriso.
Manteve-se em silêncio enquanto o elevador subia devagar. Era um pouco antigo. De repente, um solavanco e depois a imobilidade. Sentiu-se ligeiramente contrariada. Levantou os olhos para encarar o homem. Sempre era seu companheiro neste contratempo.

Repare: eu carreguei no stop mas não fique aborrecida. Quero falar um pouco... consigo. Sem-nome transfigurou-se. O seu rosto contraía-se. Os seus olhos iluminavam-se de fúria. O brincalhão! O atrevido! Não isto não estava a acontecer com ela!

Lamento dizer-lhe mas não tenho nome, por isso, não posso apresentar-me. Enfim... sou só eu, eu mesmo. Ah sim? Não me diga! Pois o meu nome é Sem-nome. Acho que consigo ser mais exótica que o senhor. E agora por favor faça o elevador subir. Tenho certa pressa.

Quero fazer-lhe uma pergunta: alguma vez se interrogou acerca do seu tempo de vida, do que já gastou, do que ainda lhe resta? Francamente, o homem era doido! Gostava de discorrer acerca do sentido da vida no interior de um espaço exíguo como o de um elevador!

Devia descontrair-se Sem-nome. Não quero fazer-lhe mal nenhum. Só quero conversar. Conversar consigo... Ela nem respondeu. Perplexa olhava-o enquanto ele se sentava alegremente no chão, encostando as costas à parede do elevador. Olhando para cima, sorria para ela.
Bom... verá que daqui a pouco já quer sentar-se...

Bruscamente e com alguma violência esticou o braço para o painel dos botões. Confusa queria acertar no 4. Mas a mão dele foi mais rápida e agarrou-lhe o pulso puxando-a para baixo. Ela quase caiu por cima dele mas lá conseguiu desviar-se indo tombar desajeitadamente no chão ao seu lado. Não vale a pena. Eu não a vou deixar tocar em botão nenhum. A seu tempo voltaremos a subir...

Incrédula e já receosa ela manifestou a sua fúria: o senhor é doido mas não terá muito tempo para as suas loucuras não tarda muito alguém vai precisar de usar o elevador e então o seu plano será interrompido! A voz saía-lhe entrecortada a inquietação sufocava-a um pouco. Que pesadelo!

Vamos lá. Diga-me: alguma vez pensou...? No seu tempo? Nunca lhe apeteceu pará-lo? Interrompê-lo? Quer dizer... fazer alguma coisa como eu fiz agora. Parei o seu tempo e a minha intervenção criou um intervalo na sua vida. Bem... também criou na minha é verdade. Mas era isso mesmo que eu queria. Gostava que partilhasse comigo este intervalo esta suspensão. Sabe... houve quem se interessasse pela suspensão do juízo. Mas eu... a mim atrai-me a suspensão do tempo. Queria fazê-la sentir tanta atracção por esta ideia como eu sinto.

Ela respirou fundo tentando acalmar-se. Decidiu manter-se serena. Tentaria convencê-lo a parar com a tal interrupção do tempo da qual ele fazia um assunto tão importante. Enfim... o que vale é que a paciência sempre tinha sido uma das suas qualidades! Fingiu interessar-se pelo tema. Mas era difícil disfarçar o seu sentimento de revolta. A voz traía-a um pouco.

Bom...já que insiste... não nunca pensei muito no meu tempo nem em suspendê-lo. Limito-me a vivê-lo.
Ah... vejo que não está ainda muito interessada. Mas faz um esforço. Isso é bom sinal. Talvez se eu lhe der alguns exemplos de vantagens para uma pequena suspensão do tempo... ainda que provocada artificialmente. Talvez consiga fazê-la ver como pode ser importante.

Ela olhou discretamente para o relógio. Ia jantar tarde hoje. Se jantasse... Decidida virou-se para ele. Fez um ar interessado e dispôs-se a escutá-lo.

Publicada por Ana Paula em Quarta-feira, Junho 11, 2008

O ELEVADOR, II

Então conte-me... que ia fazer a seguir? Jantar? Qual o rumo dos seus passos no dia de hoje? Mas que tem o senhor com isso? Era o que mais faltava dar-lhe contas da minha vida! Bom não se zangue era apenas para a levar a entender... Mas entender o quê? Que há para entender?! Diga-me mas é... o que pretende com todo este absurdo? Absurdo! Disse bem. A voz dele soava triunfante. É exactamente esse o cerne da questão o absurdo de tudo.

Sem-Nome olhava-o cada vez mais arrepiada. Ele começava a fazer-lhe medo pânico e isso tudo que há de aterrorizador. O olhar cravado no seu rosto... a expressão escandalosamente tranquila com a qual a encarava... a voz pausada e matizada por uma diversão interior qualquer... Adivinhando os seus pensamentos o homem agarrou-lhe a mão desta vez suavemente e com firmeza disse: sei o que está a pensar. Não não sabe o senhor é um pretensioso é o que é para não dizer pior de si. Sei sim sei o que imagina. Crê que eu lhe quero fazer mal forçá-la a alguma coisa... enfim... alguma coisa de natureza...isso isso mesmo estou certo de que sabe do que estou a falar. Ela olhava-o o medo comia-lhe a face reparou que os lábios lhe tremiam pensou que toda aquela emoção todo o seu estado de alerta a traía.

Mas ele continuava: ou então em alternativa julga que quero brincar consigo que a quero aprisionar porque tenho índole de carrasco sendo a Sem-Nome a vítima. A propósito agora que o proferi o seu nome é mesmo bonito parece um sinal qualquer que exige ser interpretado... mas isso fica para outra vez. Que outra vez?! Não haverá outra vez nenhuma! Quando resolver ser correcto e dar fim a esta brincadeira de mau gosto... não volto a querer vê-lo pela frente.

Tem que acreditar em mim. Nada do que lhe está a passar pela cabeça tem fundamento não quero fazer-lhe mal algum. Eu sei que pode ser difícil acreditar mas é assim tal e qual. Nunca a forçaria a nada de nada... enfim... Ah, sim, essa está boa. Não me forçaria a nada a não ser a isto a esta paragem forçada do elevador comigo aqui dentro contra-vontade. Muito interessante! Tem razão a isso forcei-a mas só a isso. Porque tem que ser para... Tem que ser?! Tem que ser?! Ela gritava e as suas faces estavam vermelhas de fúria. Espere espere acalme-se e verá que vai valer a pena.

Então decidiu mais uma vez dominar-se e agir de modo sereno escutá-lo a pouco e pouco trazê-lo à razão. Se não queria fazer-lhe mal... se não queria jogos de sedução... bem isso era o mais importante. Tanto mais que não estava nada interessada em aproximações dessa natureza a sua vida decorria no rescaldo de uma história que ainda a magoava. Mas aquele homem começava a tornar-se um mistério. Para lá do receio que lhe inspirava não podia deixar de se sentir intrigada com tudo aquilo que estava a acontecer ali por trás da porta e das paredes de um elevador fora da vista do mundo lá fora um exterior que ela sabia estar em movimento... mas de cuja existência até começava a duvidar. De repente o espaço tinha-se contraído e limitava-se a um pequeno cubículo para lá do qual nada mais parecia existir e fazer sentido. A situação que vivia era tão inesperada e estranha que toda a sua vida começava a esbater-se na sua memória. Sem passado e sem futuro era o instante presente que importava nada mais.

Ele tirou do bolso do casaco um livrinho de apontamentos puxou de uma caneta e escreveu lendo em voz alta: intervalo com Sem-Nome. Totalmente absurdo louco inacreditável. Nunca entenderia nada daquilo a não ser como vivência de loucura. Não se preocupe é só um registo deste momento especial. Muito bem mas passemos ao que importa quer dizer qual afinal o motivo deste... enfim... intervalo? Disse que ia explicar-me fazer-me entender. Pois... pois... é assim isto não é nada fácil mas como lhe disse suspender o tempo pode ser vital. Claro que os segundos os minutos continuam a decorrer mas por outro lado não se não vivermos a par da sua passagem e sim ignorando que tudo está sempre a fugir a correr para a frente de acordo com a seta do tempo.

Realmente é difícil entender sobretudo aceitar. Que o senhor queira deixar de viver por minutos ou horas de acordo com a seta do tempo é uma coisa já de si estranhíssima mas que queira companhia para o fazer e que escolha como local de eleição para o seu ritual este elevador onde o conforto não mora... bom... isso é praticamente inaceitável.

Repare preciso de testemunhas preciso sobretudo da presença de um outro(a) para que a consciência deste estado transitório não seja só minha. Quero ter a certeza quero estar ciente de que não imaginei apenas mas sim que de facto interrompi alguma coisa de concreta. Por exemplo a sua vida. O outro é um espelho nunca pensou nisso? Se o outro é o senhor não quero ver-me nesse espelho. Não quer mas vê-se vê-se verá... E que mais? Ela inquiria-o disfarçando a impaciência. Que mais? Quero partilhar. Sem isso nada tem piada não concorda? Humm... entendo acho que sim. Mas não estava lá muito convencida. No entanto a ideia de partilhar sentia-a importante precisamente porque raro tivera essa preocupação. Algo lhe dizia que nesse ponto estava em falta. Hum hum estou a ver. E porquê este lugar digamos no mínimo insólito? Estamos algo isolados do mundo e do tempo que passa. Assim mais ninguém me chama louco só a Sem-Nome e ninguém lhe chama louca a si quer dizer quando sentir exactamente como eu. Bom bom isto era digno de rir à gargalhada! Agora a louca era ela! Ele presumia que ela sentiria e desejaria o mesmo que ele!

Mas a voz continuava... o elevador está em movimento é perfeito como símbolo do correr do tempo. Ele também tem uma direcção definida para cima ou para baixo. Pará-lo é como parar o tempo. E sei que está a perguntar para quê essa ideia fixa de parar o tempo? Verá que só assim pode considerar tudo de outro ponto de vista e orientar a sua vida no tempo que ainda tem para viver de acordo com a sua verdadeira intenção. Tem a certeza de que queria ir para casa quer dizer suponho que mora aqui melhor tem a certeza de que quer ir para onde ia? Fazer o que ia fazer? É isso que importa saber eu quero saber saber mais saber todos os dias!

Quer dizer que faz isto todos os dias?!! Tenho que ter cuidado consigo realmente! Não claro que não o faço sempre. Só quando preciso de "acordar" do mecanicismo em que se converte a vida. Pois claro estou a perceber tudo perfeitamente. Quer dizer o senhor é um verdadeiro contratempo! Exacto! Pense bem: não há nada que tenha eliminado como opção no seu tempo... alguma coisa que retirou dele e que possa querer modificar? Retroceder se assim o desejar a partir destes instantes aqui dentro... algo que situou fora dos dias que tem vivido e que pretendia continuar a viver...? Alguma coisa que nesta suspensão signifique muito afinal e a faça percorrer tudo de modo diferente numa nova linha temporal e factual paralela...? Temos inúmeras possibilidades sabe?

Que optimista! Por essa ordem de ideias estamos sempre a voltar atrás e nunca seguimos para a frente... Aí é que se engana! Trata-se de escolher. Escolher o que queremos. O tempo pode fluir na direcção que quisermos... Pois sim talvez tenha razão até acho a sua ideia interessante. Mas não sei... O certo é que a sua conversa e isto tudo... bem... estou com uma tremenda dor-de-cabeça. Entende isso? Creio que sem este intervalo criado por si na minha vida ela nunca teria surgido. Teria sido tudo realmente diferente. De repente sinto-me cansada. E absurda! Sobretudo absurda!

Pois eu sei. Escolher é sempre uma terrível e imensa dor-de-cabeça. Já me sucedeu igual. Não se preocu... E enquanto as palavras dele soavam como pancadas secas aos ouvidos de Sem-Nome assim mesmo inesperadamente e de repente o elevador retomou a sua lenta subida! Olhou e confirmou: o 4 estava iluminado! Sentiu-se confusa e lá no íntimo uma leve sensação de tédio e de decepção começou a correr-lhe pelas veias à medida que se levantava enquanto se amparava desajeitadamente na parede do elevador... respirou fundo e o alívio que sentiu provocou-lhe uma ligeira tontura. Sim a pouco e pouco recuperaria o controlo da sua vida.

Finalmente o elevador estacou. No 4º sim precisamente no 4º andar sem mais fugas ao seu destino. Ele estava em silêncio total e ela mal conseguia olhá-lo. Estendeu a mão para empurrar a porta e sair! Sair daquele momento claustrofóbico que tão estranhamente conseguira enfrentar da melhor forma. Mas a porta girou nas dobradiças antes que pudesse empurrá-la e não fora ele que estava atrás dela algo ausente a abri-la. Levantou os olhos rapidamente e encarou o espaço agora livre à sua frente... Estava ali alguém... Sem-Nome não estava à espera disso! Bruscamente deu um salto para trás assustada. Calma! Está tudo bem disse ele. Apresento-lhe a minha mãe.

Recuperou de imediato o sangue-frio. Decidida avançou saindo finalmente daquela involuntária reclusão. À sua frente especada na semi-obscuridade do corredor a mulher sorria com ligeira ironia: Não precisa de dizer nada. Ele prendeu-a no elevador certo?
(ainda não concluído)
Publicada por Ana Paula em Domingo, Junho 15, 2008

O ELEVADOR, III

À medida que caminhava pelo corredor mal iluminado, Sem-Nome sentia-se pairar. Os pés que tocavam o chão pareciam querer tornar-se estranhas asas e a todo o momento ela temia elevar-se dali e levantar voo. A mulher tocava-lhe no braço com a sua mão fria e imponderável. O toque era perceptível. E a pressão era suave mas firme. A pouco e pouco ela ia avançando ao longo do corredor como um autómato. Atrás dela os passos arrastados do homem recordavam-lhe uma inquietante presença.

Aquela que se dizia mãe falava com voz metálica e as palavras demoravam a fazer sentido na sua mente algo atordoada.
A única coisa que posso fazer para desculpar o comportamento do meu filho é oferecer-lhe uma chávena de chá. Quero que aceite. Vai sentir-se melhor depois, verá... Ele não faz mal a ninguém, sabe...? Nunca magoou um único ser vivo. Pelo menos premeditadamente. Estes actos são compulsivos não os controla. Mas todas as pessoas que prende no elevador ficam connosco de uma ou de outra forma. Vejo nisso algo de inexplicável é verdade mas inofensivo.

E todo este palavreado insólito que lhe era audível permanecia no entanto semi-inconsciente no seu espírito. Alguma coisa se passava com ela. Alguma coisa desconhecida perturbante e invasiva.
Tinham chegado a uma zona do corredor mais escura. Uma lâmpada em falta ou fundida talvez... pensou. Olhou para trás e a zona de contraste entre a escuridão e a luz mesmo que fraca pareceu-lhe brutal. Imagens de objectos cortantes dominaram a sua visão interior. De algum modo o corredor parecia mostrar-lhe um corte abrupto e inesperado entre dois mundos. Mas a porta chamou a sua atenção... Uma porta à sua frente por trás da escuridão e que se abria deixando passar outra luz. Difusa e azulada. O ténue foco dispersou-se pelas suas roupas e brilhou nos seus olhos que piscaram dolorosamente. A respiração pesada do homem atrás de si despertou-a daquele estado de semi-transe.

Entre disse ele com voz funda e pesarosa. Entre disse a mãe firmemente. Sem-Nome tinha de súbito despertado do estado de estupefacção que a tinha remetido para um nível de existência algo imbecil. Não queria entrar. O receio o pânico e o pavor de repente tomaram conta de si. Queria recuar fugir escapar. Voltar atrás voltar à zona de luz no corredor e seguir directa para a sua própria casa. Hesitante tentou voltar-se mas encontrou o corpo pesado do estranho que a empurrou devagar para a frente onde a mãe lhe estendia a mão enquanto sorria ligeiramente. Pressentiu que o sorriso era forçado. Tudo decorria em breves instantes que lhe pareciam já horas tal era a sensação de arrastamento de si presente nestes últimos minutos da sua partilhada existência com aqueles dois inesperados seres. Uma partilha forçada e incompreensível. Que se tornava cada vez mais irremediável. Não tinha como escapar e o seu destino era entrar.

A mulher estava impaciente. E o olhar traduzia cansaço. Um filho homem com aquele vício não devia ser nada fácil pensou rapidamente. Para lá da soleira da porta ela penetrava num refúgio desconhecido. Apesar de tudo sentiu-se curiosa. Percorreu com o olhar os sinais presentes pela casa nas paredes nos móveis nas janelas através das quais não conseguia ver mais do que uma luz azul brilhante metálica coada muito fracamente pelas cortinas que ali pendiam tristemente já gastas vindas de outros tempos. A casa era triste. Essa sensação apoderou-se dela penetrando todos os poros da sua pele. Sentiu-se muito viva enquanto absorvia aquela tristeza alheia.

Oiça. Preciso de... é que... eu só queria falar... falar com alguém... só precisava que alguém me escutasse... que alguém me desse um pouco de atenção... a voz dele atrás de si era um sussurro rouco. Ele estava muito perto. Virou-se para trás e olhou-o nos olhos. Isso é um pedido de desculpas? perguntou. Acho que sim respondeu ele. Mas só vale se o aceitar. Sem-Nome decidiu espontaneamente ser compreensiva. Julgou ficar assim de acordo com a sua íntima natureza. Já nada mais lhe restava entretanto. Por isso disse: Está bem aceito. Está desculpado.

Olhou à volta em busca da mulher a estranha mãe. Estava parada ao fundo da sala junto à janela. Caminhou na sua direcção olhando para um lado e para o outro. Foi então que o seu coração disparou e quase perdeu o equilíbrio cambaleando. Mas o homem que seguia atrás dela amparou-a enquanto ela siderada fixava o olhar no lado esquerdo da sala. Em cadeiras de espaldar alto ou em banquetas espalhadas ao acaso pelo compartimento brilhavam diversos pares de olhos humanos pertencentes a gente ali sentada gente que lhe era estranha pessoas imprevistas e desconhecidas. Todos esses olhares se fixavam nela. Uns indiferentes outros divertidos e até uma rapariga muito nova que parecia triste se levantou para a receber. Uma mesa mostrava um enorme bule. O aroma do chá penetrava no ar denso que envolvia o lugar.

Uma voz soou electrizante ficando a carregar a atmosfera. Segura bem nela filho. Vá... digam... Digam-lhe lá... a verdade. Ela sentiu-se absurda e irrelevante ao reparar que todos tinham uma chávena de chá na mão que equilibravam cuidadosamente como objecto frágil precioso e imprescindível. Muito aprumados todos foram falando:
Bem-vinda... Bem-vinda... Bem-vinda... Até que alguém acrescentou: Bem-vinda... à eternidade. Ao espaço fechado. Ao tempo parado. Onde tudo permanece imóvel. Onde nada acontece. Onde se entra e onde se está. De onde não se sai. Estamos aqui fechados. Agora... consigo. Sente-se...

Lutadora Sem-Nome parou de tremer. É que uma chávena de chá já estava à sua espera.
(Fim)

Publicada por Ana Paula em Quinta-feira, Julho 17, 2008