terça-feira, 12 de agosto de 2008

DÉCIMO SEXTO ANDAR: ANA EUFRÁZIO


POR UM FIO

Estava com a cabeça erguida olhando as luzes insistentemente acenderem 5, 4, 3... Até que, diante de mim, a porta se abriu . Saíram umas três pessoas. Por fim entrei.

Quando estava quase terminando fechar, uma senhora adentrou, parecia muito atrasada, conseguiu por pouco. Junto com ela um perfume fortíssimo invadiu com o lugar. Somente quando estava ao meu lado, notei o decote, daqueles em “V”, de vai que é tua... E os seios... Pareciam desafiar a lei da gravidade. Procurei sentir um cheiro de fêmea não consegui, o perfume era tão forte que ardiam as narinas. Bobagem! Quem presta atenção em perfume forte, com dois sonhos de padaria, um ao lado do outro, unidos por um sutiã, ínfimo, um, ou dois números menor. A peça deveria estar pequena, unia os seios e expelia a aureola para fora, dava pra ver por entre a transparência da blusa uma florzinha surgindo timidamente de dentro da meias-taças, que eu as beberia inteiras. Tinha-se a sensação de que as duas gérberas sufocavam, de tão juntas que estavam. Observando de cima notava-se uma linha quase que imaginária os separando.
Só então que percebi que não estávamos sozinhos. Uma senhora, com um jeito de casta. Sabe aquelas mulheres com jeito de quem nunca se masturbou? Pois é... Uma criatura dessas nos fazia companhia. Olhe-ia por instante e pensei... E se eu enfiasse a minha língua no seu ouvido, ou se delicadamente, por baixo da saia, acariciasse a sua vulva? Poderia quem sabe apenas dizer meia dúzia de palavras pornográficas. Será que conseguiria despertar a fera escondida na pele de cordeiro? Acho que ela teria um orgasmo ali mesmo, na frente de todos nós, e sairia dissimulando uma asma, um desmaio, sei lá, um susto talvez. Acho que a celibatária penetrou o meu âmago, vasculhou todo o meu íntimo e acabou por perceber toda a sacanagem que permeava meus pensamentos. Olhou-me de um jeito! Abraçou fortemente a bolsa, procurava proteção.
A porta abriu e entrou um sujeito, um tipo garotão... O narcisista, não percebeu os seios fartos saltando do decote, a mulher casta e nem um nanico com cara de tarado que estava ao meu lado. O pintor de rodapé entrou bípede e saiu equilibrando-se, desajeitadamente, num tripé. Enquanto eu encarava discretamente, ele babava cinicamente observavando o monte pascoal. Enfim o garotão, reservatório de testosterona, e o anão nos deixaram as sós. Ou quase a sós, restava ainda a puritana. Imediatamente pensei... Se ficássemos as sós, eu e a gostosona, rasgaria o seu sutiã, morderia seus mamilos, morderia seu pescoço, a faria ter uns três orgasmos, no mínimo. Sairíamos daqui direto para um motel.
Quinto. Entra uma ninfa. Pela madrugada! Uma coisa! Dois peitinhos! Pareciam dois limões verdinhos recém brotados. Aquele cheiro pueril, de meninas de treze, catorze, quinze anos. Sexto. Tinha ainda quadris estreitos, quase infantis, mas uma bundinha desafiadora... Mordiscaria de leve todo aquele gluteosinho. Lá vai ela embora, que pena! Opa! Peraí, vai levando com ela a balzaquiana mal comida. Enfim sós.
O que digo? Calor? Calor, ficou louco? Aqui dentro o clima está extremamente agradável. O tempo está bom, não é mesmo? Idiota, lá fora tá caindo o maior toró. Já sei, vou convidá-la para uma apresentação teatral. Com uns seios desses! Ela não freqüenta teatro. Não. Vou convidá-la pra praia e pra o pagode no domingo. E tu vais deixar esse avião dar mole na praia? Melhor não. Vou dar xeque-mate agora mesmo.
Oitavo. Ela se apronta para sair.
É agora.
─ Vem sempre aqui?
Ela me olha espantada. Eu dou de ombros. Só mesmo um idiota cretino como eu tenta puxar conversa perguntando a uma mulher se ela costuma freqüentar elevadores.
assinado: Ana Eufrázio
anaeufrazio.blogspot.com